quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Oficina: Sílaba Tônica - o jogo da língua.

Oi Pessoas!

Trago hoje uma oficina bem legal pra vocês trabalharem com os alunos. Vamos lá!

 

Ponto de partida:

Essa atividade deve ser posterior ao aprendizado das sílabas tônicas, da classificação dos vocábulos quanto ao número de sílabas e da classificação das palavras em oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas. Todo esse conhecimento servirá para uma reflexão sobre a língua portuguesa, levando em conta que a tonicidade é um dos fundamentos da acentuação.

Objetivo

1) Sensibilizar os alunos para características próprias da língua portuguesa, que são na maioria das vezes inconscientes para o falante.
2) Perceber a ligação entre tonicidade, número de sílabas na palavra e acentuação gráfica.
3) Reconhecer as sílabas tônicas das palavras. Separar sílabas. Classificar as palavras em oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas.

Justificativa

Partindo do pressuposto que os alunos já tenham a informação técnica sobre a tonicidade das palavras, sobre número de sílabas, separação silábica e acentuação gráfica, vamos propor uma atividade que permita vivenciar certas características da língua, a partir da experiência pessoal dos alunos.

Estratégias

1) Cada grupo seleciona um artigo de jornal ou revista. Desse texto, deve selecionar o primeiro ou os dois primeiros parágrafos.
2) Todas as palavras que fazem parte desse(s) parágrafo(s) serão selecionadas e classificadas.
3) Uma primeira pesquisa deverá apontar o número de palavras oxítonas (incluindo os monossílabos tônicos), paroxítonas e proparoxítonas.
4) Em seguida, cada grupo fará a tabulação dos dados, indicando a quantidade total de palavras, e a quantidade de palavras oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas.
5) Esses resultados serão comparados entre os grupos, para ver se obedecem a algum padrão. Qual categoria engloba o maior número de palavras? Qual categoria engloba o menor número de palavras? Isso indica um determinado padrão da língua?
6) Uma segunda pesquisa deverá responder à seguinte questão: em cada categoria, que palavras são acentuadas?
Certamente, surgirão dúvidas e dificuldades durante a realização da pesquisa, que devem ser respeitadas e dirimidas pelo coordenador ou professor. Por exemplo, palavras que os alunos tem dificuldade em classificar poderiam ser colocadas numa lista à parte, para serem trabalhadas em paralelo.

Atividade

O desdobramento dessa pesquisa é a dedução das regras de acentuação. A acentuação está baseada na freqüência de ocorrências. Pode-se verificar a correlação entre a tendência paroxítona da língua e a necessidade de acentuação dos vocábulos que fogem a essa tendência.
O importante é deixar que os alunos formulem livremente suas hipóteses. Aos poucos, essas hipóteses podem ser selecionadas e avaliadas pela classe.
Uma vez que os alunos tenham vivenciado essas propriedades da língua, podem relacioná-las com as regras formais de acentuação. 


E aí, gostaram? Espero que sim.
Estou lendo as sugestões que estou recebendo e já já posto mais atividades,ok?
Bjo,bjo.
J.

Fonte: http://educacao.uol.com.br/planos-aula/ult3900u33.jhtm

Please, não mitifiquem a desmistificação!!!!

Oi pessoas!!!
Hoje estou trazendo um assunto de estudo que causa muita dúvida: o significado das palavras desmistificar e desmitificar.

Vamos aos significados:

Desmitificar tem a ver com MITO;
Desmistificar tem a ver com engano, ilusão, falsidade.

Há alguns dias atrás me perguntaram se era correto utilizar a palavra desmistificar na seguinte frase: "Temos a oportunidade de desmistificar ideias antigas que nos causam dúvida".

A resposta é SIM, pois se trata de desmascarar um engano, tirar as pessoas da ilusão.

É muito importante ficarmos atentos ao contexto de uso das palavras para que fique claro o sentido do enunciado.

É isso aí!
Deixo aqui um beijo grande pra minha amiga Marina (Nina) pelos comentários e elogios!
Dúvidas, críticas e/ou sugestões são sempre bem-vindas!

Bjo,bjo!
J.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Novo endereço do site da equipe PIP II.

Oi pessoas!!


O site da nossa equipe está com novo endereço:

Entrem lá e confiram o nosso trabalho! Críticas e/ou sugestões são bem- vindas!!!! 

E por falar em "bem-vinda", vou aproveitar esse post pra tirar uma dúvida que muitas pessoas tem: bem-vindo se escreve com hífen ou sem?


Pela nova ortografia, não houve mudança na escrita dessa palavra, ou seja, continua valendo a forma: BEM-VINDO.

Vale lembrar que é bom ficar atento à concordância dela:

Sejam todos bem-vindos
Revistas são bem-vindas
Uma gratificação será bem-vinda
Um prêmio é sempre bem-vindo

VALE LEMBRAR que escreve-se "bem-vindo" (hifenizado) também para diferenciar de "Benvindo" - nome próprio.

Bjo,bjo!
J.

Preconceito Linguístico


Olá pessoas!!
Hoje vou abordar um tema polêmico: O preconceito linguístico!
Infelizmente ainda encontramos pessoas que, por ignorância, se prendem às questões do "certo" e "errado" da língua e acabam cometendo preconceito linguístico, preconceito este que gera tantos outros!!!!!!!
Eu, particularmente, sou totalmente contra qualquer tipo de preconceito e como profissional da área de educação, mais especificamente professora de Língua Portuguesa, não poderia deixar "passar batido" essa questão que nós vivenciamos todos os dias nas salas de aula, nas ruas, em casa, na lanchonete e por aí vai...

Para embasar teoricamente a minha fala, vou recorrer a um mestre da linguística: Marcos Bagno! Conheci seu trabalho na faculdade e desde então virei fã! Para que vocês também possam conhecer o trabalho dele segue o link do site: 
http://marcosbagno.com.br/site/
Vale a pena conferir! Lá vocês irão encontrar artigos, textos, livros... enfim, muita coisa bacana!

Voltando ao assunto das variedades linguísticas, que são o "motivo" dos preconceitos linguísticos....
Marcos Bagno ( que é escritor, tradutor, linguista e professor da UnB), apresenta em seu artigo "Na língua nada é por acaso" que:
"para as ciências da linguagem,não existe erro na língua. Se a língua é entendida como um sistema de sons e significados que se organizam sintaticamente para permitir a interação humana,toda e qualquer manifestação lingüística cumpre essa função plenamente. A noção de “erro”se prende a fenômenos sociais e culturais,que não estão incluídos no campo de interesse da Lingüística propriamente dita,isto é,da ciência que estuda a língua “em si mesma”,em seus aspectos fonológicos,morfológicos e sintáticos. Para analisar as origens e as conseqüências da noção de “erro”na história das línguas será preciso recorrer a uma outra ciência,necessariamente interdisciplinar,a Sociolingüística,entendida aqui em sentido muito amplo,como o estudo das relações sociais intermediadas pela linguagem.
A noção de “erro”em língua nasce,no mundo ocidental,junto com as primeiras descrições sistemáticas de uma língua (a grega),empreendidas no mundo de cultura helenística,particularmente na cidade de Alexandria (Egito),que era o mais importante centro de cultura grega no século III a.C.
Por causa de seus preconceitos sociais,os primeiros gramáticos consideravam que somente os cidadãos do sexo masculino,membros da elite urbana,letrada e aristocrática falavam bem a língua. Com isso,todas as demais variedades regionais e sociais foram consideradas feias,corrompidas,defeituosas,pobres etc.
Ainda na questão da variação,os primeiros gramáticos,comparando a língua escrita dos grandes escritores do passado e a língua falada espontânea,concluíram que a língua falada era caótica,sem regras,ilógica,e que somente a língua escrita literária merecia ser estudada,analisada e servir de base para o modelo do “bom uso”do idioma. Essa separação rígida entre fala e escrita é rejeitada pelos estudos lingüísticos contemporâneos,mas continua viva na mentalidade da grande maioria das pessoas.
Com isso,passa a ser visto como erro todo e qualquer uso que escape desse modelo idealizado,toda e qualquer opção que esteja distante da linguagem literária consagrada;toda pronúncia,todo vocabulário e toda sintaxe que revelem a origem social desprestigiada do falante;tudo o que não conste dos usos das classes sociais letradas urbanas com acesso à escolarização formal e à cultura legitimada. Assim,fica excluída do “bem falar”a imensa maioria das pessoas –um tipo de exclusão que se perpetua em boa medida até a atualidade."
"Qualquer análise que desconsidere um desses pontos de vista –o científico e o do senso-comum –será,fatalmente,incompleta e não permitirá uma reflexão que permita analisar a realidade lingüístico-social nem a elaboração de políticas que auxiliem na constituição de um ensino verdadeiramente democrático e formador de cidadãos.A escola não pode desconsiderar um fato incontornável:os comportamentos sociais não são ditados pelo conhecimento científico,mas por outra ordem de saberes (representações,ideologias,preconceitos,mitos,superstições, crenças tradicionais,folclore etc.). Essa outra ordem de saberes pode sofrer influência dos avanços científicos,mas quase sempre essa influência se faz de forma parcial,redutora e distorcida. Querer fazer ciência a todo custo sem levar em conta a dinâmica social,com suas demandas e seus conflitos,é uma luta fadada ao fracasso.
A Sociolingüística nos ensina que onde tem variação (lingüística) sempre tem avaliação (social). Nossa sociedade é profundamente hierarquizada e,conseqüentemente,todos os valores culturais e simbólicos que nela circulam também estão dispostos em categorias hierárquicas que vão do “bom”ao “ruim”,do “certo”ao “errado”,do “feio”ao “bonito”etc. E entre esses valores culturais e simbólicos está a língua,certamente o mais importante deles. Por mais que os lingüistas rejeitem a norma-padrão tradicional,por não corresponder às realidades de uso da língua,eles não podem desprezar o fato de que,como bem simbólico,existe uma demanda social por essa “língua certa”,identificada como um instrumento que permite acesso ao círculo dos poderosos,dos que gozam de prestígio na sociedade.Uma das tarefas do ensino de língua na escola seria,portanto,discutir criticamente os valores sociais atribuídos a cada variante lingüística,chamando a atenção para a carga de discriminação que pesa sobre determinados usos da língua,de modo a conscientizar o aluno de que sua produção lingüística,oral ou escrita,estará sempre sujeita a uma avaliação social,positiva ou negativa.
Podemos,por exemplo,ao encontrar formas não-padrão na produção oral e escrita de nossos alunos,oferecer a eles a opção de “traduzir”seus enunciados para a forma que goza de prestígio,para que eles se conscientizem da existência dessas regras. A consciência gera responsabilidade. E é ao usuário da língua,ao falante/escrevente bom conhecedor das opções oferecidas pelo idioma,que caberá fazer a escolha dele,eleger as opções dele,mesmo que elas sejam menos aceitáveis por parte de membros de outras camadas sociais diferentes da dele. O que não podemos é negar a ele o conhecimento de todas as opções possíveis.
Para realizar essa tarefa,o docente precisa se apoderar do instrumental que a ciência lingüística,e mais especificamente a Sociolingüística,oferece para a análise criteriosa dos fenômenos de variação e mudança lingüística.
O profissional da educação tem que saber reconhecer os fenômenos lingüísticos que ocorrem em sala de aula,reconhecer o perfil sociolingüístico de seus alunos para,junto com eles,empreender uma educação em língua materna que leve em conta o grande saber lingüístico prévio dos aprendizes e que possibilite a ampliação incessante do seu repertório verbal e de sua competência comunicativa,na construção de relações sociais permeadas pela linguagem cada vez mais democráticas e não-discriminadoras."
 Bom, temos muito o que (re)pensar, não é mesmo?
Para quem quiser saber mais sobre preconceito linguístico, fica aqui a dica do livro, também do Marcos Bagno, "Preconceito Linguístico: o que é, como se faz", São Paulo, Editora Loyola, 1999.
Beijo, beijo!
J.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Dica de filme.

O filme Escritores da Liberdade nos mostra que nós podemos fazer a diferença independente dos problemas que tivermos.
É um filme que mergulha em certas questões sociais e educacionais, mostrando imperfeições do sistema educacional americano, cheio de regras e normas, bem como a luta de uma professora por uma causa quase morta: a melhoria/qualidade da educação em todos os níveis sociais.
A professora se doa incondicionalmente ao seu fazer, não como uma ação assistencialista, mas como uma professora aprendiz. Alguém que se dispõe a ensinar e aprender sobre mundos completamente diferentes do que ela vive.


Fica a dica para assistir e refletir!

Bjo,bjo!
J.

O CBC de Língua Portuguesa


Olá pessoas!
Hoje vou escrever um pouco a respeito do CBC de Língua Portuguesa, mas antes de especificar o que é abordado no CBC dessa disciplina vou fazer um "apanhado" do que é o CBC.
Vocês irão notar a repetição da sigla "CBC", mas não tem outro jeito, pois não temos outro nome para substituí-lo em certos casos... (risos)
Então vamos lá!
O que é o CBC?
O CBC é o conteúdo básico comum que todo aluno deve aprender em cada disciplina e o Governo de Minas, através das escolas referência, elaborou um livro que contém esses conteúdos e aborda as competências e habilidades que o nosso aluno deve desenvolver.
Nosso livrinho CBC é um norteador do trabalho do professor, por isso vale a pena utilizá-lo!

O CBC de Língua Portuguesa
A proposta apresentada no CBC de Língua Portuguesa é muito interessante. Para não ficar massante, farei uma abordagem em tópicos. Quem quiser ler o CBC na íntegra pode acessar o nosso site da equipe PIP II e baixá-lo.
O CBC apresenta a proposta de ensino da disciplina, as diretrizes para escolha dos conteúdos e os conteúdos em si dentro dos eixos temáticos. Junto aos conteúdos são apresentadas as competências e habilidades que nossos alunos devem desenvolver. Vale a pena conferir!

Finalidade básica do ensino da Língua Portuguesa:
Desenvolver competências gerais de representação da linguagem e comunicação.

→ Ensinar linguagem para construir sentidos.
→ Ensinar o aluno a usar a língua e a refletir sobre o uso.

→ Linguagem: constitutiva de nossa identidade como seres humanos.
→ Língua Portuguesa: constitutiva de nossa identidade sociocultural.

→ Compreender as variedades da língua e combater o preconceito lingüístico.
→ Revisão do conceito de gramática: é preciso lembrar que a língua portuguesa não é uma só.
→ Ensinar o aluno a ler, interpretar e produzir textos de diversos gêneros.


EIXOS TEMÁTICOS
I. Compreensão e Produção de Textos
II. Linguagem e Língua
III. Literatura e outras manifestações culturais

Bom, por enquanto é só...
Bjo,bjo.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A menina de lá.

Enquanto isso... um pouco de literatura...boa literatura! Deliciem-se!


Conto: A MENINA DE LÁ
              João Guimarães Rosa


Sua casa ficava para trás da Serra do Mim, quase no meio de um brejo de água limpa, lugar chamado o Temor-de-Deus. O Pai, pequeno sitiante, lidava com vacas e arroz; a Mãe, urucuiana, nunca tirava o terço da mão, mesmo quando matando galinhas ou passando descompostura em alguém. E ela, menininha, por nome Maria, Nhinhinha dita, nascera já muito para miúda, cabeçudota e com olhos enormes.
Não que parecesse olhar ou enxergar de propósito. Parava quieta, não queria bruxas de pano, brinquedo nenhum, sempre sentadinha onde se achasse, pouco se mexia. – "Ninguém entende muita coisa que ela fala..." – dizia o Pai, com certo espanto. Menos pela estranhez das palavras, pois só em raro ela perguntava, por exemplo: - "Ele xurugou?" – e, vai ver, quem e o quê, jamais se saberia. Mas, pelo esquisito do juízo ou enfeitado do sentido. Com riso imprevisto: - "Tatu não vê a lua..." – ela falasse. Ou referia estórias, absurdas, vagas, tudo muito curto: da abelha que se voou para uma nuvem; de uma porção de meninas e meninos sentados a uma mesa de doces, comprida, comprida, por tempo que nem se acabava; ou da precisão de se fazer lista das coisas todas que no dia por dia a gente vem perdendo.
Só a pura vida.
Em geral, porém, Nhinhinha, com seus nem quatro anos, não incomodava ninguém, e não se fazia notada, a não ser pela perfeita calma, imobilidade e silêncios. Nem parecia gostar ou desgostar especialmente de coisa ou pessoa nenhuma. Botavam para ela a comida, ela continuava sentada, o prato de folha no colo, comia logo a carne ou o ovo, os torresmos, o do que fosse mais gostoso e atraente, e ia consumindo depois o resto, feijão, angu, ou arroz, abóbora, com artística lentidão. De vê-la tão perpétua e imperturbada, a gente se assustava de repente. – "Nhinhinha, que é que você está fazendo?" – perguntava-se. E ela respondia, alongada, sorrida, moduladamente: - "Eu... to-u... fa-a-zendo". Fazia vácuos. Seria mesmo seu tanto tolinha?
Nada a intimidava. Ouvia o Pai querendo que a Mãe coasse um café forte, e comentava, se sorrindo: - "Menino pidão... Menino pidão..." Costumava também dirigir-se à Mãe desse jeito: - "Menina grande... Menina grande..." Com isso Pai e Mãe davam de zangar-se. Em vão. Nhinhinha murmurava só: - "Deixa... Deixa..." – suasibilíssima, inábil como uma flor. O mesmo dizia quando vinham chamá-la para qualquer novidade, dessas de entusiasmar adultos e crianças. Não se importava com os acontecimentos. Tranqüila, mas viçosa em saúde. Ninguém tinha real poder sobre ela, não se sabiam suas preferências. Como puni-la? E, bater-lhe, não ousassem; nem havia motivo. Mas, o respeito que tinha por Mãe e Pai, parecia mais uma engraças espécie de tolerância. E Nhinhinha gostava de mim.
Conversávamos, agora. Ela apreciava o casacão da noite. – "Cheiinhas!" – olhava as estrelas, deléveis, sobre-humanas. Chamava-as de "estrelinhas pia-pia". Repetia: - "Tudo nascendo!" – essa sua exclamação dileta, em muitas ocasiões, com o deferir de um sorriso. E o ar. Dizia que o ar estava com cheiro de lembrança. – "A gente não vê quando o vento se acaba..." Estava no quintal, vestidinha de amarelo. O que falava, às vezes era comum, a gente é que ouvia exagerado: - "Alturas de urubuir..." Não, dissera só: - "... altura de urubu não ir." O dedinho chegava quase no céu. Lembrou-se de: - "Jabuticaba de vem-me-ver..." Suspirava, depois: - "Eu quero ir para lá." – Aonde? – "Não sei" Aí, observou: - "O passarinho desapareceu de cantar..." De fato, o passarinho tinha estado cantando, e, no escorregar do tempo, eu pensava que não estivesse ouvindo; agora, ele se interrompera. Eu disse: - "A Avezinha." De por diante, Nhinhinha passou a chamar o sabiá de "Senhora Vizinha..." E tinha respostas mais longas: - "Eeu? Tou fazendo saudade." Outra hora falava-se de parentes já mortos, ela riu: - "Vou visitar eles..." Ralhei, dei conselhos, disse que ela estava com a lua. Olhou-me, zombaz, seus olhos muito perspectivos: "Ele te xurugou?" Nunca mais vi Nhinhinha.
Sei, porém, que foi por aí que ela começou a fazer milagres.
Nem Mãe nem Pai acharam logo a maravilha, repentina. Mas Tiantônia. Parece que foi de manhã. Nhinhinha, só, sentada, olhando o nada diante das pessoas: - "Eu queria o sapo vir aqui" Se bem a ouviram, pensaram fosse um patranhar, o de seus disparates, de sempre. Tiantônia, por vezo, acenou-lhe com o dedo. Mas, aí, reto, aos pulinhos, o ser entrava na sala, para aos pés de Nhinhinha – e não o sapo de papo, mas uma bela rã brejeira, vinda do verduroso, a rã verdíssima. Visita dessas jamais acontecera. E ela riu: - "Está trabalhando um feitiço..." Os outros se pasmaram; silenciaram demais.
Dias depois, com o mesmo sossego: - "Eu queria uma pamonhinha de goiabada" – sussurrou; e, nem bem meia hora, chegou uma dona, de longe, que trazia os pãezinhos da goiabada enrolada na palha. Aquilo, quem entendia? Nem os outros prodígios, que vieram se seguindo. O que ela queria, que falava, súbito acontecia. Só que queria muito pouco, e sempre as coisas levianas e descuidosas, o que não põe nem quita. Assim, quando a Mãe adoeceu de dores, que eram de nenhum remédio, não houve fazer com que Nhinhinha lhe falasse a cura. Sorria apenas, segredando seu – "Deixa... Deixa..." – não a podiam despersuadir. Mas veio vagarosa, abraçou a Mãe e a beijou , quentinha. A Mãe, que a olhava com estarrecida fé, sarou-se então, num minuto. Souberam que ela tinha também outros modos.
Decidiram de guardar segredo. Não viessem ali os curiosos, gente maldosa e interesseira, com escândalos. Ou os padres, o bispo, quisessem tomar conta da menina, levá-la para sério convento. Ninguém, nem os parentes de mais perto, devia saber. Também, o Pai, Tiantônia e a Mãe, nem queria versar conversas, sentiam um medo extraordinário da coisa. Achavam ilusão.
O que ao Pai, aos poucos, pegava a aborrecer, era que de tudo não se tirasse o sensato proveito. Veio a seca, maior, até o brejo ameaçava se estorricar. Experimentaram pedir a Nhinhinha: que quisesse a chuva. – "Mas, não pode, ué..." – ela sacudiu a cabecinha. Instaram-na: que, se não, se acabava tudo, o leito, o arroz, a carne, os doces, frutas, o melado. – "Deixa... Deixa..." – se sorria, repousada, chegou a fechar os olhos, ao insistirem, no súbito adormecer das andorinhas.
Daí a duas manhãs quis: queria o arco-íris. Choveu. E logo aparecia o arco-da-velha, sobressaído em verde e o vermelho – que era mais um vivo cor-de-rosa. Nhinhinha se alegrou, fora do sério, à tarde do dia, com a refrescação. Fez o que nunca lhe vira, pular e correr por casa e quintal.
- "Adivinhou passarinho verde?" – Pai e Mãe se perguntavam. Esses, os passarinhos, cantavam, deputados de um reino. Mas houve que, a certo momento, Tiantônia repreendesse a menina, muito brava, muito forte, sem usos, até a Mãe e o Pai não entenderam aquilo, não gostaram. E Nhinhinha, branda, tornou a ficar sentadinha, inalterada que nem se sonhasse, ainda mais imóvel, com seu passarinho-verde pensamento. Pai e Mãe cochichavam, contentes: que, quando ela crescesse e tomasse juízo, ia poder ajudar muito a eles, conforme à Providência decerto prazia que fosse.
E, vai, Nhinhinha adoeceu e morreu. Diz-se que da má água desses ares. Todos os vivos atos se assam longe demais. Desabado aquele feito, houve muitas diversas dores, de todos, dos de casa: um de repente enorme. A Mãe, o Pai e Tiantônia davam conta de que era a mesma coisa que se cada um deles tivesse morrido por metade. E mais para repassar o coração, de se ver quando a Mãe desfiava o terço, mas em vez das ave-marias podendo só gemer aquilo de – "Menina grande... Menina grande..." – com toda ferocidade. E o Pai alisava com as mãos o tamboretinho em que Nhinhinha se sentava tanto, e em que ele mesmo se sentar não podia, que com o peso de seu corpo de homem o tamboretinho se quebrava.
Agora, precisavam de mandar um recado, ao arraial, para fazerem o caixão e aprontarem o enterro, com acompanhantes de virgens e anjos. Aí, Tiantônia tomou coragem, carecia de contar: que, naquele dia, do arco-íris da chuva, do passarinho, Nhinhinha tinha falado despropositado de satino, por isso com ela ralhara. O que fora: que queria um caixãozinho cor-de-rosa, com enfeites de verdes brilhantes.
O Pai, em bruscas lágrimas, esbravejou: que não! Ah, que, se consentisse nisso, era como tomar culpa, estar ajudando ainda Nhinhinha a morrer... A Mãe queria, ela começou a discutir com o Pai. Mas, no mais choro, se serenou – o sorriso tão bom, tão grande – suspensão num pensamento: que não era preciso encomendar, nem explicar, pois havia de sair bem assim, do jeito, cor-de-rosa com verdes funebrilhos, porque era, tinha de ser! – pelo milagre, o de sua filhinha em glória, Santa Nhinhinha.

(Conto extraído do livro PRIMEIRAS ESTÓRIAS, João Guimarães Rosa, Editora Nova Fronteira, RJ)

Muito trabalho...

Olá  pessoas!
Tenho trabalhado muito esses dias, por isso ainda não postei mais nada aqui...
Já preparei uma abordagem do CBC de Língua Portuguesa e só estou esperando ter um tempinho pra escrever aqui...
Enquanto isso visitem o site da nossa equipe PIP II - SRE Barbacena:
http://pip-cbc-barbacena.webnode.com.br/

Bjo,bjo!
J.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Pra início de conversa...

O tempo fecha.
Sou fiel aos acontecimentos biográficos.
Mais do que fiel, oh, tão presa! Esses mosquitos que não
largam! Minhas saudades ensurdecidas por cigarras! O que faço
aqui no campo, declamando aos metros versos longos e sentidos/
Ah que estou sentida e portuguesa, e agora não sou mais, veja,
não sou mais severa e ríspida: agora sou profissional.

1982

(Ana Cristina César)

Bom, como não poderia deixar de ser, minha primeira postagem será em homenagem à uma das minhas escritoras preferidas: Ana C.

Utilizarei este espaço para discutirmos questões sobre o CBC de Língua Portuguesa e assuntos sobre educação e ensino, mas também, sempre que puder postarei sobre literatura e outras artes.

As ideias vão surgindo e eu vou escrevendo...

Beijo, beijo...
Jana.