segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Preconceito Linguístico


Olá pessoas!!
Hoje vou abordar um tema polêmico: O preconceito linguístico!
Infelizmente ainda encontramos pessoas que, por ignorância, se prendem às questões do "certo" e "errado" da língua e acabam cometendo preconceito linguístico, preconceito este que gera tantos outros!!!!!!!
Eu, particularmente, sou totalmente contra qualquer tipo de preconceito e como profissional da área de educação, mais especificamente professora de Língua Portuguesa, não poderia deixar "passar batido" essa questão que nós vivenciamos todos os dias nas salas de aula, nas ruas, em casa, na lanchonete e por aí vai...

Para embasar teoricamente a minha fala, vou recorrer a um mestre da linguística: Marcos Bagno! Conheci seu trabalho na faculdade e desde então virei fã! Para que vocês também possam conhecer o trabalho dele segue o link do site: 
http://marcosbagno.com.br/site/
Vale a pena conferir! Lá vocês irão encontrar artigos, textos, livros... enfim, muita coisa bacana!

Voltando ao assunto das variedades linguísticas, que são o "motivo" dos preconceitos linguísticos....
Marcos Bagno ( que é escritor, tradutor, linguista e professor da UnB), apresenta em seu artigo "Na língua nada é por acaso" que:
"para as ciências da linguagem,não existe erro na língua. Se a língua é entendida como um sistema de sons e significados que se organizam sintaticamente para permitir a interação humana,toda e qualquer manifestação lingüística cumpre essa função plenamente. A noção de “erro”se prende a fenômenos sociais e culturais,que não estão incluídos no campo de interesse da Lingüística propriamente dita,isto é,da ciência que estuda a língua “em si mesma”,em seus aspectos fonológicos,morfológicos e sintáticos. Para analisar as origens e as conseqüências da noção de “erro”na história das línguas será preciso recorrer a uma outra ciência,necessariamente interdisciplinar,a Sociolingüística,entendida aqui em sentido muito amplo,como o estudo das relações sociais intermediadas pela linguagem.
A noção de “erro”em língua nasce,no mundo ocidental,junto com as primeiras descrições sistemáticas de uma língua (a grega),empreendidas no mundo de cultura helenística,particularmente na cidade de Alexandria (Egito),que era o mais importante centro de cultura grega no século III a.C.
Por causa de seus preconceitos sociais,os primeiros gramáticos consideravam que somente os cidadãos do sexo masculino,membros da elite urbana,letrada e aristocrática falavam bem a língua. Com isso,todas as demais variedades regionais e sociais foram consideradas feias,corrompidas,defeituosas,pobres etc.
Ainda na questão da variação,os primeiros gramáticos,comparando a língua escrita dos grandes escritores do passado e a língua falada espontânea,concluíram que a língua falada era caótica,sem regras,ilógica,e que somente a língua escrita literária merecia ser estudada,analisada e servir de base para o modelo do “bom uso”do idioma. Essa separação rígida entre fala e escrita é rejeitada pelos estudos lingüísticos contemporâneos,mas continua viva na mentalidade da grande maioria das pessoas.
Com isso,passa a ser visto como erro todo e qualquer uso que escape desse modelo idealizado,toda e qualquer opção que esteja distante da linguagem literária consagrada;toda pronúncia,todo vocabulário e toda sintaxe que revelem a origem social desprestigiada do falante;tudo o que não conste dos usos das classes sociais letradas urbanas com acesso à escolarização formal e à cultura legitimada. Assim,fica excluída do “bem falar”a imensa maioria das pessoas –um tipo de exclusão que se perpetua em boa medida até a atualidade."
"Qualquer análise que desconsidere um desses pontos de vista –o científico e o do senso-comum –será,fatalmente,incompleta e não permitirá uma reflexão que permita analisar a realidade lingüístico-social nem a elaboração de políticas que auxiliem na constituição de um ensino verdadeiramente democrático e formador de cidadãos.A escola não pode desconsiderar um fato incontornável:os comportamentos sociais não são ditados pelo conhecimento científico,mas por outra ordem de saberes (representações,ideologias,preconceitos,mitos,superstições, crenças tradicionais,folclore etc.). Essa outra ordem de saberes pode sofrer influência dos avanços científicos,mas quase sempre essa influência se faz de forma parcial,redutora e distorcida. Querer fazer ciência a todo custo sem levar em conta a dinâmica social,com suas demandas e seus conflitos,é uma luta fadada ao fracasso.
A Sociolingüística nos ensina que onde tem variação (lingüística) sempre tem avaliação (social). Nossa sociedade é profundamente hierarquizada e,conseqüentemente,todos os valores culturais e simbólicos que nela circulam também estão dispostos em categorias hierárquicas que vão do “bom”ao “ruim”,do “certo”ao “errado”,do “feio”ao “bonito”etc. E entre esses valores culturais e simbólicos está a língua,certamente o mais importante deles. Por mais que os lingüistas rejeitem a norma-padrão tradicional,por não corresponder às realidades de uso da língua,eles não podem desprezar o fato de que,como bem simbólico,existe uma demanda social por essa “língua certa”,identificada como um instrumento que permite acesso ao círculo dos poderosos,dos que gozam de prestígio na sociedade.Uma das tarefas do ensino de língua na escola seria,portanto,discutir criticamente os valores sociais atribuídos a cada variante lingüística,chamando a atenção para a carga de discriminação que pesa sobre determinados usos da língua,de modo a conscientizar o aluno de que sua produção lingüística,oral ou escrita,estará sempre sujeita a uma avaliação social,positiva ou negativa.
Podemos,por exemplo,ao encontrar formas não-padrão na produção oral e escrita de nossos alunos,oferecer a eles a opção de “traduzir”seus enunciados para a forma que goza de prestígio,para que eles se conscientizem da existência dessas regras. A consciência gera responsabilidade. E é ao usuário da língua,ao falante/escrevente bom conhecedor das opções oferecidas pelo idioma,que caberá fazer a escolha dele,eleger as opções dele,mesmo que elas sejam menos aceitáveis por parte de membros de outras camadas sociais diferentes da dele. O que não podemos é negar a ele o conhecimento de todas as opções possíveis.
Para realizar essa tarefa,o docente precisa se apoderar do instrumental que a ciência lingüística,e mais especificamente a Sociolingüística,oferece para a análise criteriosa dos fenômenos de variação e mudança lingüística.
O profissional da educação tem que saber reconhecer os fenômenos lingüísticos que ocorrem em sala de aula,reconhecer o perfil sociolingüístico de seus alunos para,junto com eles,empreender uma educação em língua materna que leve em conta o grande saber lingüístico prévio dos aprendizes e que possibilite a ampliação incessante do seu repertório verbal e de sua competência comunicativa,na construção de relações sociais permeadas pela linguagem cada vez mais democráticas e não-discriminadoras."
 Bom, temos muito o que (re)pensar, não é mesmo?
Para quem quiser saber mais sobre preconceito linguístico, fica aqui a dica do livro, também do Marcos Bagno, "Preconceito Linguístico: o que é, como se faz", São Paulo, Editora Loyola, 1999.
Beijo, beijo!
J.

Um comentário:

  1. Jana, o que acho muito triste é que a gente encontra preconceito linguístico até dentro da escola, além do reforço daquele pensamento antigo de que só a linguagem formal é "correta". Dá vontade de falar pra esse pessoal abrir a cabeça!

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